Avançar para o conteúdo principal

Espelhos de Corrente com Transístores Bipolares

Considerações Iniciais

Apesar de alimentação geral de um sistema ser feita por fontes de tensão, é por vezes vantajoso alimentar circuitos com fontes de corrente. Uma fonte de corrente é um circuito que gera uma corrente constante obtida a partir de uma fonte de tensão. No caso dos circuitos integrados, as fontes de corrente são usadas com frequência para impor uma corrente num circuito, evitando assim usar resistências. As resistências não são adequadas para uso interno em circuitos integrados, pois ocupam uma área grande na pastilha de silício
A polarização de transístores dentro de um circuito integrado é frequentemente baseada no uso de fontes de corrente constante. Como normalmente são precisas várias, estabelece-se uma corrente de referência que posteriormente é replicada ou copiada as vezes necessárias através de um circuito designado espelho de corrente. A corrente de referência pode ser gerada com uma resistência de precisão, externa ao circuito integrado.

O espelho de corrente

Um espelho de corrente é um circuito que produz uma cópia da corrente de referência que circula num dispositivo activo, replicando essa corrente no segundo dispositivo activo. Os dispositivos activos que vamos aqui abordar são os Transístores de Junção Bipolares frequentemente designados BJT.

A corrente de referência

Conforme podemos ver na figura 1, o circuito que gera a corrente de referência Iref é composto apenas por uma resistência e um transístor. Admitindo que a tensão base emissor do transístor é de 0.623V e que pretendemos uma IRef de 1mA, calculamos a resistência de referência através da lei de ohm. Rref=(VCC-VBE)/IRef ou seja (12-0.623)/0.001 = 11 377 ohms.

Fig. 1 Circuito gerador da corrente de referência

Como podemos ver no circuito do lado direito da figura 1, a corrente IRef distribui-se por IC e IB, sendo que IB é muito menor que IC, pelo que tendemos a desprezá-la.

O espelho de corrente

O princípio do espelho de corrente é baseado na fórmula que dita o valor de IC de um transístor em função de:
  • IS - Corrente de saturação inversa do transístor;
  • VBE - Tensão base emissor no transístor;
  • VT - Tensão térmica (aprox 25mV à temperatura ambiente);
  • VCE - Tensão colector emissor do transístor;
  • VA - Tensão de Early (Aprox. 70V. Varia entre 50 a 100V.)
    Fórmula que nos dá o valor do IC de um transístor
Ao usar no espelho de corrente, um transístor igual ao usado no circuito de referência, como todos os parâmetros dos transístores são iguais, ao aplicar um VBE igual aos dois transístores, a IC do espelho será igual á IC do transístor usado para referência. Na verdade haverá uma ligeira diferença se o VCE for diferente, pois como é visível na fórmula, IC também varia em função de VCE.

Fig.2 Espelhos de corrente com Iout = Iref

O espelho de corrente ilustrado na figura 2 usa transístores iguais, permitindo espelhos de ganho unitário. Usando dois ou mais transístores em paralelo podemos multiplicar por n 
a corrente de saída do espelho, sendo n o número de transístores em paralelo. É também possível usar transístores diferentes obtendo ganhos que dependem da relação das áreas da junção base emissor dos transístores. Assim Iout=IRef*A2/A1 sendo A2 a área do transístor de saída e A1 a área do transístor de referência.

O peso de IB


À medida que vamos adicionando transístores, o IB desses transístores vai pesando cada vez mais na corrente de referência, deixando de ser desprezível e causando erros maiores à medida que se adicionam mais transístores. É então necessário compensar as correntes de base, usando um circuito buffer (T6) conforme ilustrado na figura 3.

Fig.3 Compensação das correntes de base através de um circuito buffer (T6)

Com este circuito melhorado, as correntes de base têm um peso menor, β vezes menor, por causa do β do T6.
De realçar que a resistência de referência Rref é diferente pois tem de ser recalculada tendo em conta o VBE de T6 e T1 (2*0.623=1.246V). Então Rref=(12-1.246)/0.001=10 754 ohms.
De notar também que desta vez foi inserida uma carga de 10K na saída de T3, fazendo o VCE baixar para cerca de 2V, mais próximo de T1, o que faz com que a corrente seja mais próxima de Iref. Subindo VCC, Iout sobe ligeiramente conforme é visível em T2, T4 e T5 com VCE=12V
É bom ter em mente que não existem fontes de corrente perfeitas, mas sim circuitos cujo comportamento se aproxima destas. Foram esses os circuitos que aqui abordámos.

Espero que com estas linhas tenha ajudado a compreender melhor o funcionamento do espelho de corrente.



Bons projectos,

Luís Sousa

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Sentido real e sentido convencional da corrente elétrica

O sentido real da corrente eléctrica, também chamado de sentido electrónico, é igual ao sentido dos electrões, que se deslocam do pólo negativo para o pólo positivo do gerador. Antes de se conhecer o sentido real da corrente eléctrica, já se havia convencionado que a corrente circulava do pólo positivo para o pólo negativo. Para não invalidar tudo o que já havia sido escrito sobre a matéria, resolveu-se manter o sentido anteriormente convencionado, chamando-o de sentido convencional da corrente eléctrica.

Resistência de um condutor - variação com a temperatura

Consideremos um condutor de resistividade ρ e resistência R. Para variações relativamente pequenas da temperatura (por exemplo, variações de 10º C), a lei de variação da resistividade e da resistência com a temperatura são, respectivamente: Em que: θ →  Temperatura mais alta θ0 →Temperatura mais baixa ρ →  Resistividade à temperatura mais alta (θ) ρ0 →Resistividade à temperatura mais baixa (θ0) R →  Resistência à temperatura mais alta (θ) R0 →Resistência à temperatura mais baixa (θ0) α→   Coeficiente de temperatura As unidades, no SI, de R e ρ já são conhecidas; a de θ e θ0 é o grau celsius e a de α é o inverso do grau celsius ( º C)^-1 . As expressões que caracterizam as leis de variação de resistividade com a temperatura e de resistência com a temperatura são idênticas, uma vez que a resistência de um condutor é proporcional à sua resistividade  Há substâncias para as quais α é positivo, ou seja a resistividade...

Transístores Bipolares BJT - Exercício - ponto de funcionamento DC em repouso

O desafio de hoje é ca lcular o VCE do  transístor, no circuito mostrado na fig.1. O Beta do transístor é 200 e o VBE de 0.7V. O VCC é de 12V conforme mostrado no esquema da figura 1 e o transístor está a funcionar na zona activa directa (não está ao corte nem à saturação). Fig.1 - Circuito a analisar Vamos então ver como chegar ao valor de VCE. Sabemos que VCE=VC-VE. No entanto para conhecer os valores de VC e VE temos de calcular as quedas de tensão em R1 e R4, o que só é possível se conhecermos IC e IE. IC e IE dependem de IB e do Beta do transístor que neste caso é 200. IC=Beta * IB e IE=(Beta+1) * IB. Como temos o Beta, falta-nos então conhecer o valor de IB para poder determinar o valor de IE e IC, que por sua vez nos permitem calcular as tensões no colector e emissor do transístor. Fig.2 Cálculo da tensão de Thevenin Vth Para calcular o IB, vamo-nos socorrer do teorema de Thévenin , que simplifica muito o circuito. Começamos por abrir o ci...