Avançar para o conteúdo principal

Transístores Bipolares BJT - Exercício - ponto de funcionamento DC em repouso

O desafio de hoje é calcular o VCE do transístor, no circuito mostrado na fig.1. O Beta do transístor é 200 e o VBE de 0.7V. O VCC é de 12V conforme mostrado no esquema da figura 1 e o transístor está a funcionar na zona activa directa (não está ao corte nem à saturação).

Fig.1 - Circuito a analisar
Vamos então ver como chegar ao valor de VCE. Sabemos que VCE=VC-VE. No entanto para conhecer os valores de VC e VE temos de calcular as quedas de tensão em R1 e R4, o que só é possível se conhecermos IC e IE. IC e IE dependem de IB e do Beta do transístor que neste caso é 200. IC=Beta * IB e IE=(Beta+1) * IB. Como temos o Beta, falta-nos então conhecer o valor de IB para poder determinar o valor de IE e IC, que por sua vez nos permitem calcular as tensões no colector e emissor do transístor.
Fig.2 Cálculo da tensão de Thevenin Vth
Para calcular o IB, vamo-nos socorrer do teorema de Thévenin, que simplifica muito o circuito. Começamos por abrir o circuito de base e calcular a tensão no ponto de união de R2 com R3. VAB=VCC x 1.2/(10 + 1.2) = 1.286V. Esta é a tensão de Thevenin.
Fig.3 Cálculo da resistência de Thevenin Rth
Agora vamos calcular a resistência de Thévenin, substituindo as fontes de tensão por um shunt, conforme mostra a figura 3 e calcular a resistência entre os pontos A e B. Só nos interessa o circuito da base, que desta forma fica com R2 e R3 em paralelo, resultando num valor de (10 x 1.2)/(10+1.2)=1.071K. Temos a nossa Rth.

Fig.4 Circuito equivalente de Thévenin aplicado à base
Seguidamente conforme mostra a fig.4, substituímos o circuito da base pelo seu equivalente de Thévenin. Podemos agora calcular IB, sendo esta igual a (Vth-VBE-VRE)/Rth. Como VRE=RE*IE e IE=(1+Beta)*IB, então  IB=(1.286-0.7-100*(1+200)*IB)/1070. Posto doutra forma:


Como IC=beta*IB então:
  • IC=200*27.68uA=5.54mA. 
  • IE=201*27.68uA=5.56mA 
Assim: 
  • VC=12-RC*IC = 12-1000*0.00554=6.46V
  • VE=RE*IE = 100*0.00554=0.554V
  • VCE=VC-VE=6.46-0.55=5.91V
Chegámos à nossa solução. VCE= 5.9V


Agora vamos comparar com os resultados obtidos num simulador (TINA),  para ver se chegámos suficientemente perto. Recordamos que o simulador tem muitos outros parâmetros do transístor em conta para chegar a um resultado



Fig.5 Resultados obtidos num simulador
Vamos então comparar:
VC   Calculado: 6.46V   - VC Simulado: 6.54V   - Diferença%  1.2%
VE   Calculado: 0.554V - VC Simulado: 0.550V  - Diferença%  0.7%
VCE Calculado: 5.91V   - VCE Simulado 5.99V   - Diferença%  1.3%

Podemos então concluir que as diferenças são suficientemente pequenas e devidas a arredondamentos e ao facto do simulador ter em conta muito mais parâmetros do transístor conforme podem ver na fig.6 

Fig. 6 Parâmetros de um transístor BJT tidos em conta pelo simulador
Espero que se tenham divertido e simultaneamente aprendido ou relembrado algo.


Comentários

Mensagens populares deste blogue

OPAMPs - Ganho em malha fechada - Amplificador inversor

Quanto tempo já gastou a decorar as fórmulas do ganho de tensão das várias montagens possíveis com Ampops? Já imaginou donde vêm essas fórmulas? Fig.1 Montagem Inversora Sabendo as características dos AMPOPs  ideais   não é difícil chegar às fórmulas do ganho de tensão. Vamos então relembrar as características dos amplificadores operacionais ideais: Ganho infinito em malha aberta; Largura de banda infinita; Impedância de entrada infinita; Impedância de saída nula; Ausência de ruído; Offset = zero (exactamente 0 V na saída quando as duas entradas forem exactamente iguais); Sem dependência térmica. Tomando como exemplo a montagem inversora representada na fig 1, vemos que ao abrigo das características ideais dos OPAMPs não existe corrente de entrada, pois a sua impedância é infinita. Logo: A corrente que circula em R1 é igual à corrente que circula em R2; A diferença de potencial entre a entrada positiva e negativa é ~= 0, pelo...

Espelhos de Corrente com Transístores Bipolares

Considerações Iniciais Apesar de alimentação geral de um sistema ser feita por fontes de tensão, é por vezes  vantajoso  alimentar  circuitos com fontes de corrente.  Uma fonte de corrente é um circuito que gera uma corrente constante obtida a  partir de uma fonte de tensão.  No caso dos circuitos integrados, as fontes de corrente são usadas com frequência para impor uma corrente num circuito, evitando assim usar resistências.  As resistências não são adequadas para uso interno em circuitos integrados, pois ocupam uma área grande na pastilha de silício .  A polarização de transístores  dentro de um circuito integrado é frequentemente baseada no uso de fontes de corrente constante. Como normalmente são precisas várias, estabelece-se uma corrente de referência que posteriormente é replicada ou copiada as vezes necessárias através de um circuito designado espelho de corrente . A corrente de referência pode ser gerada com uma resistênci...